As cortinas daquele quarto eram
azuis claras, suaves como a mais leve nuvem no céu; e cobriam de forma mágica a
porta da varanda, sem impedir que ela fosse vista. Pensar em tocar o tecido
fino e transparente dava a impressão de pensar em tocar o Paraíso.
Quem
passava pela frente da casa notava primeiro as cortinas; depois o jardim, com
suas orquídeas das mais diversas caindo pelas árvores em meio a roseiras. O
branco não substancial sobre uma pintura provavelmente colorida na parede
proporcionava alívio aos olhos e tranquilidade à mente. Então o sentimento de
que anjos poderiam morar ali aumentava. Era quase impossível não parar o carro
pelo menos uma vez na vida para observar a casa, após conhecê-la.
Talvez
anjos morassem mesmo lá. Uma menina de aparência tão bela e leve quanto a casa
habitava o quarto das cortinas. Seu olhar era azul também, e transmitia a
transparência e pureza de seu espírito. Ela era boa em fazer amigos e levava
pouco tempo para eles virarem tão íntimos a ponto de conhecer a casa por
dentro. Quando conheciam, começavam a lembrar anjos em algum traço de suas
ações. Quando passavam a frequentar a casa, então, deixavam os outros felizes
só por sorrirem.
Aqueles
sorrisos, aliás, eram obras de arte. Daquelas tão boas que fazem olhos de
adultos brilharem como os de uma criança aprendendo a andar. E dessas obras de
arte aquele pequeno mundo se alimentava, porque se precisa desse tipo de luz na
vida. Todos que percebiam os sorrisos tinham a capacidade de iluminar uma
cidade inteira, e a luz de só uma cidade teria o poder de preencher as trevas
do mundo.
É muito
difícil acreditar nessas divagações abstratas sobre luz e felicidade, quando
queremos acreditar que o mundo é frio e cruel. Vou contar uma coisa: é
exatamente aí que entra a luz. Também é muito difícil para alguns admitir que
parte do Paraíso se encontre na Terra.
E talvez seja por isso que é
quase impossível que alguém sorria para um estranho, e mais ainda que um
estranho tenha um sorriso retribuído. Se isso acontecesse, os corações seriam
mais leves que nuvens, tenho certeza.
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