sábado, 27 de outubro de 2012

As cortinas azuis



As cortinas daquele quarto eram azuis claras, suaves como a mais leve nuvem no céu; e cobriam de forma mágica a porta da varanda, sem impedir que ela fosse vista. Pensar em tocar o tecido fino e transparente dava a impressão de pensar em tocar o Paraíso.

                Quem passava pela frente da casa notava primeiro as cortinas; depois o jardim, com suas orquídeas das mais diversas caindo pelas árvores em meio a roseiras. O branco não substancial sobre uma pintura provavelmente colorida na parede proporcionava alívio aos olhos e tranquilidade à mente. Então o sentimento de que anjos poderiam morar ali aumentava. Era quase impossível não parar o carro pelo menos uma vez na vida para observar a casa, após conhecê-la.

                Talvez anjos morassem mesmo lá. Uma menina de aparência tão bela e leve quanto a casa habitava o quarto das cortinas. Seu olhar era azul também, e transmitia a transparência e pureza de seu espírito. Ela era boa em fazer amigos e levava pouco tempo para eles virarem tão íntimos a ponto de conhecer a casa por dentro. Quando conheciam, começavam a lembrar anjos em algum traço de suas ações. Quando passavam a frequentar a casa, então, deixavam os outros felizes só por sorrirem.

                Aqueles sorrisos, aliás, eram obras de arte. Daquelas tão boas que fazem olhos de adultos brilharem como os de uma criança aprendendo a andar. E dessas obras de arte aquele pequeno mundo se alimentava, porque se precisa desse tipo de luz na vida. Todos que percebiam os sorrisos tinham a capacidade de iluminar uma cidade inteira, e a luz de só uma cidade teria o poder de preencher as trevas do mundo.

                É muito difícil acreditar nessas divagações abstratas sobre luz e felicidade, quando queremos acreditar que o mundo é frio e cruel. Vou contar uma coisa: é exatamente aí que entra a luz. Também é muito difícil para alguns admitir que parte do Paraíso se encontre na Terra.

E talvez seja por isso que é quase impossível que alguém sorria para um estranho, e mais ainda que um estranho tenha um sorriso retribuído. Se isso acontecesse, os corações seriam mais leves que nuvens, tenho certeza.