quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Amigos de mesa


A mão esquerda segurava um lápis, que riscava a superfície da mesa. Aos poucos, a paisagem de uma praia em pleno pôr-do-sol ia aparecendo e a criadora do desenho se perdia nela. O sinal tocou, Giovanna guardou o material e saiu da sala. Finalmente a segunda-feira acabara!

 Na tarde seguinte, a menina entrou na sala de aula, jogou a mochila no chão, abriu-a, pegou seus livros e... Seu desenho continuava ali, e, para sua surpresa, acompanhado de um comentário (provavelmente de alguém do turno da manhã):

 Que lindo!

Giovanna sorriu e colocou seus livros na mesa, ao lado do desenho. Então pegou seu lápis e escreveu:

Obrigada.

Na quarta-feira, seu “obrigada” havia sido respondido, com um: Disponha, você merece.
Ela dessa vez deu uma risada contida e escreveu: Você não me conhece para saber se eu mereço, posso ser uma pessoa muito má.

Eu garanto que não é.

Você continua sem me conhecer.

Eles limpam as mesas às sextas.

Quando Giovanna olhou sua mesa na segunda seguinte, algumas palavras um pouco borradas enfeitavam a madeira.

Posso saber seu nome?

Sou só uma sonhadora. E você?

Sou só um louco.

Louco? Por quê?

Porque todos somos loucos.

E todos somos sonhadores.

Então você é uma sonhadora louca. Um dia descubro seu nome.

Será, louco sonhador?

Eles limpam as mesas às sextas.

E por muito tempo, os dois conversaram através das mesas. Giovanna ficava acordada até tarde pensando em qual seria a resposta do garoto e tentando imaginar como ele seria pessoalmente. Na segunda, como sempre, uma mensagem estava escrita na mesa.

O que você vai fazer no sábado?

Acho que nada. Por quê?

Curiosidade.

Então você é um louco sonhador curioso.

Com certeza.

Talvez eu vá ao cinema às 14h.

Que coincidência! Eu também!

Só porque eu vou, não é?

Eles limpam as mesas às sextas.

Giovanna colocou um vestido amarelo, um par de tênis e pegou sua bolsa. Seu tio a deixou no shopping e ela foi andando até o cinema. Como vou reconhecer o menino?, questionou-se. Olhou em volta e se sentiu uma idiota por não ter combinado nada direito. Sua sorte era que aquele era o único cinema da cidade.

Sentou-se em um banco em frente ao cinema. Seu olhar sonhador vagou pelo lugar e captou um menino loiro e alto de óculos. Em sua camisa havia algum desenho... Era uma praia, no pôr-do-sol. Giovanna caminhou até ele e disse:

– É você?

– Acredito que eu seja eu. E que você seja você – disse ele sorrindo.

– Seu louco!

– Louco sonhador!

– Adorei sua camisa.

– E eu adorei seus tênis.

Giovanna olhou para os tênis comuns e riu, olhando para o garoto. Ela se lembrou que ainda não sabia seu nome, mas ele foi mais rápido.

– Agora, acredito que queira me dizer o nome que seus pais escolheram para você.

– Giovanna, – disse ela, sorrindo, – e o seu?

– Pedro. Que filme você quer assistir?

Na segunda feira, Giovanna olhou para sua mesa. Um cinema estava desenhado, na tela havia um garoto e uma garota se abraçando; ao fundo, uma praia em pleno pôr-do-sol. E onde deveriam estar as legendas do filme havia uma simples mensagem:

Para a minha amiga de mesa...